Etimologia Madamme

Madamme - Considero a maior contribuição da língua francesa à civilização ocidental a palavra “madame”. Madame...palavra gorda, palavra sonora, palavra bonita. Madame! Começa e acaba rapidamente entre duas consoantes oclusivas bilabiais sonoras, trazendo conforto próximo à palavra “mamãe”. É um anteparo nominal generoso; madame pode ser tratamento respeitoso, gentil, nobiliárquico, classista, excludente, irônico, elegante, cafona e, em diversas situações, alegórico. Madame. Nenhuma madame é uma mulher comum. Qualquer uma que incorpore esse substantivo antes do nome ou do sobrenome tratada será de modo distinto. Mesmo que a distinta seja de quinta.
Os dicionários etimológicos elucidam: madame vem da junção de ma dame, lá do Francês medieval. Os primeiros registros datam de 1297, embora sua origem desponte do latim mea domina, que originou Madonna, que por sua vez significa minha senhora. O termo atravessou o canal da Mancha em 1599 e caiu a boca dos ingleses, transformando-se em - madam - empregado então para designar senhoras de posses. Hoje vale para se referir polidamente a qualquer senhora casada – de bunda grande ou não. A primeira vez que “madame” ganhou ares pouco respeitosos foi em 1871, quando, ulalá, serviu de sinônimo para cafetinas, alcoviteiras, donas de bordel. Tristesse da Finesse, começava o desmoronamento do substantivo madame.

Obviamente sobreviveram, ate meados do século XX, as autênticas madames aristocráticas, de estirpes heráldicas, sempre esnobes, desconhecendo a desclassificação gradativa do substantivo que lhes fora tão honroso. Logo depois da proliferação de novas-madames que fez com que os franceses inventassem a personagem Madame tout-le-monde, a “Madame todo mundo”, madame next door, madame fulano de tal, madame Zé-ninguem.

A pequena burguesia se vingava das madames. Chamar qualquer pé-rapada de madame era a revanche contra a dominação patronal das mulheres poderosas, de narizes empinados e silhuetas eretas. Uma das senhoras da nobreza parisiense fin-de-siecle, descrita de modo caricato por Marcel Proust, era tão magra e turgida que parecia “uma árvore que nasce à beira dos penhascos e que se distende ao máximo para aprumar o caule”.

(fragmento reportagem revista MAG)

Nenhum comentário:

Postar um comentário